Principais responsáveis pela retomada econômica no Paraná, os negócios locais exploram o ambiente on-line para dinamizar atendimento e divulgar serviços
O isolamento social, o home office e demais medidas necessárias à contenção do novo coronavírus alteraram a forma de consumo e de prestação de serviços. Sem a presença física do consumidor, ir até ele nas redes sociais passou a ser determinante para a sobrevivência do negócio. Mesmo com a reabertura do comércio presencial, tornou-se essencial para um negócio existir no universo on-line para garantir as vendas.
Muitas vezes sem estrutura adequada para funcionamento remoto, as micro e pequenas empresas foram diretamente atingidas pela pandemia em 2020. Neste ano, graças à inovação do setor e à transição para as plataformas digitais, elas representam um importante pilar para a retomada de empregos no Paraná.
As pequenas empresas durante a pandemia
A suspensão de serviços não essenciais no estado em 21 de março do ano passado, para conter o avanço da Covid-19, fez com que 36% dos micro e pequenos empreendedores paranaenses acreditassem que teriam que fechar as portas no mês seguinte, segundo levantamento realizado pelo Sebrae.
A partir da presença digital das empresas e do cumprimento das medidas de segurança contra a Covid-19 recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Paraná apresentou recuperação do cenário inicial da crise. Nos seis primeiros meses de 2021, as empresas abertas no estado cresceram 23, 86% com relação ao ano passado, conforme a Junta Comercial do Paraná (Jucepar).
Graças aos micro e pequenos negócios, a geração de emprego no estado também aumentou neste ano. Eles foram responsáveis pela criação de 86.293 novas vagas de trabalho, representando 72,93% dos empregos criados no Paraná até junho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregos e Desempregos (Caged), do Ministério da Economia. Entretanto, nada disso seria possível se os empreendedores locais não tivessem encontrado novas formas de manterem as empresas neste momento de crise sanitária.
Transição digital dos negócios de Curitiba
Em Curitiba, os pequenos negócios tiveram que se reinventar para continuarem funcionando durante os primeiros meses de pandemia. O funcionamento de centros comerciais e de serviços foi suspenso em 21 de março do ano passado e, impedidos de abrirem as lojas, os pequenos negócios encontraram na Internet uma forma de continuarem as vendas. É o caso de Erich Miners, dono da Livraria Vertov, presente na capital desde 2011.
Além de livraria, o estabelecimento também abriga iniciativas culturais, debates, lançamentos e cursos de formação e por isso o impacto da pandemia foi sentido imediatamente. “Com o cancelamento dos eventos por conta da pandemia, feiras, lançamentos e encontros acadêmicos, tivemos uma grande retração no orçamento”, conta Erich. “Para o nosso tipo de comércio e perfil o ano estava apenas começando em março, com a volta das atividades acadêmicas e culturais na cidade.”
A solução para continuar o funcionamento da Livraria Vertov foi a digitalização das atividades, que é um dos efeitos definitivos da pandemia, segundo a pesquisa Pequenos Negócios e o Enfrentamento da Crise do Coronavírus, publicada em agosto do ano passado pelo Sebrae. “Nossa iniciativa foi simples, centralizamos um número de WhatsApp para os clientes consultarem o acervo e definir as entregas em domicílio”, afirma Erich.
Conforme o estudo, o uso das redes sociais como ferramenta de vendas permanecerá em alta durante a crise sanitária. “O papel das redes tem sido cada vez mais fundamental para atendimento, divulgação de promoções, novas parcerias e lançamentos. Nossa meta é aprimorar cada vez mais nosso atendimento e divulgação por meio delas”, ressalta o dono da Vertov.
Para Elis Mader, também empreendedora em Curitiba e dona do Brechó Avenca, a divulgação online passou a ser o principal mostruário para os consumidores no início da pandemia. “Tivemos que nos moldar totalmente para trabalhar somente online e nos reorganizar para esse tipo de atendimento”, expõe.
A empresária afirma que a desistência de peças foi o principal impacto sentido, uma vez que os clientes não podiam experimentar as roupas. Com a flexibilização das medidas restritivas do comércio na capital, o Avenca passou a ter peças vendidas fisicamente. Contudo, o espaço digital continua sendo uma importante fonte de vendas do brechó.
Uma vitrine de negócios da capital paranaense
O perfil do Instagram Curitiba Achei foi criado em 2016 com o propósito de valorizar o comércio, produtos e serviços da cidade. É o que conta Isabella Lee, administradora da página. Ela expõe que deseja alcançar cada vez mais curitibanos e admiradores da capital. “A ideia é mostrar para quem nos segue tudo aquilo que tem de novo e diferente em Curitiba”, conta.

Durante a crise do novo coronavírus, a principal mudança foi produzir conteúdo sem sair de casa. “Buscamos conhecer empresas que trabalhassem com delivery, seja na área gastronômica ou não. Conseguimos conhecer novos negócios sem precisar ir até o estabelecimento”, explica Isabella.
Os mais de 26 mil seguidores do perfil têm acesso a dicas de produtos e serviços da capital diariamente. Segundo a administradora, normalmente as empresas entram em contato para fechar a parceria. A maioria apresentam satisfação com os resultados que vem por meio de visualizações, reconhecimento e seguidores.
Sucesso que nasceu online na pandemia
Em plena pandemia, Gabrielle Fontanetto e Ana Letícia Calixto decidiram começar um negócio e hoje têm bons resultados com a venda de doces. A Inclusive, Donuts surgiu em julho de 2020 nas redes sociais com a intenção de atender a todos os públicos, como enunciado pelo slogan “Doce para todos. Afinal, ninguém é igual.” O Instagram da marca conta com quase dois mil seguidores. Em outubro do ano passado, a empresa abriu uma loja em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.

Frente à incerteza econômica trazida pela pandemia, Gabrielle Fontanetto relata que teve medo de não obter sucesso. Entretanto, o resultado do empreendimento foi além do esperado por ela. “Nós fazíamos os donuts de manhã e entregas à tarde, mas eu fiquei com medo desse contato direto com as pessoas por causa do vírus”, conta. Hoje, Gabrielle e Ana contam com ajuda na loja às sextas e finais de semana, e passaram a entregar via aplicativo.
As redes sociais representam, para a empreendedora, 100% do negócio, já que é por meio elas que grande parte das vendas e divulgação da marca são feitas. Gabrielle explica que existe uma preocupação em entregar um conceito para os seguidores. “Hoje em dia temos uma equipe de social media. Eu me preocupo bastante em não entregar só um produto para você comprar, eu quero que as pessoas sigam pelo conteúdo”, expõe.