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Há 12 anos, paisagista dedica vida a resgatar e cuidar de cães em situação de risco

Todos os dias, a protetora faz um trajeto de quase 13 km para alimentar os cães e cuidar do canil na região metropolitana de Curitiba
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Marilena (à direita) se dedica a resgatar e cuidar de cães há 12 anos. Fotos: Felipe Barbosa/Tudo Já Existe

Quem dedica tempo, paciência e carinho a cães e gatos abandonados merece todo reconhecimento e atenção especial. Um levantamento de 2022 feito pelo Instituto Pet Brasil aponta que o país tem 184 mil animais abandonados, ou resgatados de maus tratos, sob a tutela das ONGs e grupos de protetores. Desse grande número, 96% deles são cães e 4% gatos. Em todo o país, são os pequenos abrigos os responsáveis por mais de 40% da população de pets disponíveis para adoção.

Enquanto ONGs e protetores fazem o que podem para ajudar, o número de pets em condições de vulnerabilidade tem aumentado a cada ano. No primeiro levantamento feito pelo Instituto em 2018, o número de animais em risco era de 3,9 milhões em todo o Brasil. No entanto, em dois anos, com a pandemia, o número saltou para 8,8 milhões. Mais que dobrou.

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Vida dedicada aos animais

Em Curitiba-PR, há 12 anos a paisagista Marilena Gaissler Moreira, de 58 anos, dedica seu tempo e faz o que pode para cuidar de mais de 60 cães que estão à espera de adoção. Assim, todos os dias, Marilena faz um trajeto de quase 13 km para alimentar os cachorros, cuidar do canil, preparar as refeições e dar atenção a eles.

Ela sai do Alto da XV, bairro onde mora na capital paranaense, até uma chácara em Colombo, na região metropolitana. É lá que ela mantém o lar temporário SOS Recanto Francisscão, espaço dedicado a cuidar de cães em situação de risco. Diariamente, Marilena sai de casa cedo, coloca nas sacolas doações de alimentos frescos e proteínas e se desloca para o canil. “Dou comida, limpo tudo. Se saio de casa 8 horas, chego lá umas 9. Ficam de dois a três em cada canil. Cada um no seu cantinho. Chegando lá, solto eles, ficam no sol, brincam. Volto para casa umas 15h30”, conta a cuidadora.

Para ajudar na alimentação dos cães, Marilena cozinha vegetais em casa, leva doações de carne que recebe do açougue e, chegando no canil, prepara uma boa panela de arroz. Os cães recebem então uma refeição feita de vegetais, carne, arroz e ração. Enquanto o arroz é preparado, a paisagista aproveita o tempo para limpar todo o canil e colocar água fresca aos peludos.

Vira-latas brincalhões, outros mais “atentados”, velhinhos quietinhos e filhotes animados. Marilena conhece cada um e acredita que todos merecem uma casa, uma família. Mas, para impedir que a “grande família” de quatro patas aumente de maneira descontrolada, Marilena tem castrado aos poucos os machos do canil. Pela quantidade, tem sido complicado. O trabalho é pesado, a dedicação é exclusiva, e Marilena confessa que precisa de ajuda, principalmente financeira.

Amor de bicho, “o mais puro que tem”

Marilena sempre gostou de bichos. Com o irmão, que morava numa chácara em Campo Largo, construiu um pequeno canil. “Eu tinha um labrador e levei para a chácara. Lá, comecei a cuidar dos cachorrinhos que apareciam abandonados pela região. Cheguei a ter 22 cachorrinhos lá. Mas meu irmão teve que vender a chácara. Então consegui um lugar emprestado em Quatro Barras (também na grande Curitiba). Aí que foi o problema. As pessoas viam que eu cuidava dos animais e começaram a abandonar os cães, virou desova de cachorro. Tive muito problema, procurei a Prefeitura para castrar um e outro. Castrei 30 machos”, conta.

Com o passar do tempo, já eram 60 cães. Dessa forma, Marilena precisou procurar uma outra área. Começou a pagar um consórcio para comprar a chácara onde ficava os cães. Dali foi para outra área emprestada, uma locação de um antigo canil em Campina Grande do Sul, que era usado por antigos criadores de cães de raça.

Nesse período, entre mudanças de chácara, Marilena até perdeu as contas de quantos animais ajudou. Cachorros com problemas de saúde, alguns cegos, outros com dificuldade de andar. “Eu ajudei muitos cachorros, mais de 40, 50 cães. Resgatei muito e doei bastante também”, relembra.

Cães ajudaram em momento difícil

Talvez sem que tenha notado, Marilena encontrou nos cães a realização de cuidar e curar. “Minha mãe teve Alzheimer, eu era muito ligada a ela. Eu sempre conseguir manter e cuidar da saúde da minha mãe e nos momentos difíceis eram eles [os cães] que me davam força. Eu pegava os cães, com a ajuda de uma amiga, às vezes resgatava, ela tratava e a gente doava. Minha alegria era ver um cachorrinho mal tratado se transformar, deixar ele saudável e doar”, explica.

Quando o pai de Marilena faleceu, a situação financeira apertou. Era ele quem a apoiava com os recursos para manter os cães. Assim, ela precisou vender o consórcio por não conseguir mais pagar. A chácara, alugada em Colombo, e que hoje abriga os cães que ela cuida, está com o aluguel atrasado. A dívida foi estimada em R$ 24 mil pela imobiliária. Para aliviar a situação, Marilena pede ajuda para manter os cachorros saudáveis e encontrar tutores para os animais.

“O ideal é que os cães todos sejam doados, porque eu acho que eles merecem. Quando vou para a chácara, são eles que me restauram, me dão força. Eu acho que esse amor que o cachorro transmite, é o amor mais puro que tem. Deus nos mostra isso todos os dias. A gente anda na rua, vê um animal. Eles não querem nada, só comida e carinho. É isso que me fez continuar tanto nessa luta”, reflete a protetora.

Recentemente, ela passou a contar com a ajuda de uma voluntária especial. A estudante de arquitetura Mariane Rodrigues conheceu a história de Marilena por meio de amigos e se sentiu tocada a contribuir de alguma forma. Passou a cuidar das redes sociais do Recanto, dando às páginas um conteúdo mais atrativo, em busca de adotantes. Além disso, ela mesma desenvolver um projeto para revitalizar a chácara e transformá-la em um pet hotel – uma forma de garantir o giro de recursos para manter os cuidados com os resgatados. “Nossa ideia é não precisar viver só de doação, porque isso é desesperador. Com o pet hotel, poderemos ter o dinheiro necessário para cuidar dos outros cães”, revela.

Como ajudar?

A melhor maneira de ajudar o SOS Recanto Franciscão é adotando um dos cãezinhos que moram no lar temporário. As fotos dos amiguinhos de quatro patas estão publicadas no perfil do Instagram do canil. Além disso, há outras formas de colaborar. Para ajudar Marilena com as despesas, é possível fazer doações em PIX para o e-mail mgmm56@hotmail.com.

Outra forma de ajudar é com doações como: ração, arroz, carnes para a alimentação dos cães, itens básicos como cobertinhas, potinhos para comida, caminhas, casinhas, remédios veterinários. O lar também precisa de itens de limpeza como água sanitária, detergente, sabão em pó, desinfetante, esponja, rodo, vassoura e pano de chão.

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