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Projeto voluntário doa próteses para pessoas com deformidade na face

Serviço de universidade oferece gratuitamente próteses de partes do rosto para pessoas que nasceram ou sofreram alguma deformidade na face
Paciente de projeto voluntário recebe prótese óculopalpebral. Foto: divulgação.

Um projeto voluntário realizado por docentes e alunos do Departamento de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) tem devolvido a dignidade e o conforto a pacientes do Brasil todo. Coordenado pela professora Adriana Corsetti, mestre e doutora em próteses bucomaxilofacial pelo Centro Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial (CTBMF), o projeto oferece gratuitamente próteses de partes do rosto para pessoas que, por diversos motivos, nasceram com ou sofreram alguma deformidade na face.

O atendimento a comunidade acontece desde 2017. De lá para cá, foram ao todo 144 pacientes atendidos. Ainda há uma fila de espera de atendimento de aproximadamente 80 pessoas. Os procedimentos são realizados por estudantes da graduação e recebem a supervisão de professores da universidade. A cada nova prótese, uma nova história para contar. As pequenas peças, feitas de acrílico ou silicone, devolvem funções de parte do rosto e trazem autoestima.

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“Eu tenho mil histórias para contar”, confidencia a coordenadora do projeto, Adriana Corsetti. À frente do serviço, a especialista revela que o projeto já recebeu pacientes do Brasil todo. São atendidas pessoas que nasceram com alguma deformidade, associada a algum tipo de síndrome. Além disso, há também casos de traumas, por acidentes de trânsito. A maioria dos casos são de pacientes que sofrem de neoplasias – crescimento de tumor, que pode surgir em diferentes partes do corpo.

Histórias transformadas

Uma das histórias marcou a docente. “Teve uma vez um menino, de oito anos, que veio fazer o olho. A mãe insistiu para entrar a prótese na semana seguinte. A gente segue um processo, tem um tempo específico, mas ela disse eu faço questão’. Resumo, a gente correu, pessoalmente eu corri para finalizar a prótese antes do prazo. Eu instalei o olho e, meu Deus, o menino começou a chorar. Ele disse que era o aniversário dele, ‘meu sonho era passar o meu aniversário com esse olho’. Ninguém costuma chorar na frente dos pacientes, mas nesse dia todo mundo chorou. O sonho do menino era esse”, recorda a especialista.

Confecção de próteses em silicone especial. Foto: divulgação.

Adriana também lembra do caso de uma moça que perdeu parte da região nasal após uma cirurgia plástica. “Ela chegou para nós e disse, ‘eu fiz uma cirurgia plástica e eles mutilaram meu nariz’. Ela trabalhava em uma escola pública e sofria com bullying. Eu expliquei que a prótese seria visível, que as pessoas iriam saber que ela estaria usando uma. Ela me disse, ‘eu não me importo que vejam a prótese, quem sabe eles ficam com pena de mim e param com o bullying’. A deformidade provocada pela cirurgia plástica estava causando um problema psicológico importantíssimo nessa paciente”, revela.

Muitos outros pacientes passaram pelo projeto e marcaram Adriana e os alunos. “Um senhor sofreu um acidente de trânsito e há 40 anos buscava ter uma prótese. Perdeu parte da região óculopalpebral. Um morador de rua levou um tiro no rosto e deixava o cabelo crescer para esconder a deformidade no olho. Quando entregamos a prótese a ele, ele cortou o cabelo no dia seguinte. Parecem coisas simples, mas o fato de poder usar um óculos, colocar um brinco, traz dignidade ao paciente”.

Da triagem até a entrega das próteses

O projeto desenvolvido pelos docentes e alunos da UFGRS produz três tipos de próteses faciais: as oculares, de acrílico; as faciais, feitas de silicone de alta qualidade para que fiquem realísticas; e as próteses intrabucais, que ajudam pacientes que perderam por algum motivo parte do céu da boca. “São próteses que devolvem a estética, o conforto do paciente. Dignifica, devolve a função de partes do rosto. Uma prótese de nariz, por exemplo, ajuda na proteção de infecções de vias aéreas. A prótese para quem não tem a orelha ajuda na acústica da audição”, exemplifica a especialista.

Todo o processo de confecção começa com uma triagem prévia e várias fotografias. O paciente começa o tratamento, paga uma taxa simbólica para a universidade, de apenas R$ 5, e volta para casa com a prótese depois de algumas semanas. Uma prótese ocular leva em média três semanas para ficar pronta. Já as próteses faciais, de silicone, podem demorar até dois meses para serem finalizadas.

“São os alunos do curso de Odontologia que fazem as próteses. São tudo com eles. Pinta, esculpem. A gente faz a barba, cílios, sobrancelha. Damos preferência ao próprio cabelo do paciente. Eu ajudo no refinamento, acompanho os alunos. Existe tecnologia que nos ajuda. Alguma coisa é feita em impressão 3D, quando temos a oportunidade de usar”, detalha a professora Adriana.

Atendimento gratuito

Os procedimentos são realizados por estudantes da graduação, que atendem os pacientes nas segundas-feiras das 13h30 às 16h20 na Faculdade de Odontologia (Ramiro Barcelos, 2.492, 3º andar). O trabalho tem supervisão de professores da Faculdade. Para agendar atendimento, basta o interessado enviar e-mail para protesebucomaxilofacial@ufrgs.br, com os dados de contato e um breve relato do caso clínico.

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